quarta-feira, 23 de maio de 2007

Meu Sapato Novo

Havia saído para fumar um cigarro lá fora - a lei de Nova York não permite aquela fumaceira charmosa dentro dos bares e boates. Acendi e, no frio, a fumaça do tabaco se misturava à fumacinha produzida pelo calor da minha respiração. Um sujeitinho se aproximou e perguntou se podia lustrar meus sapatos.
 
Eu estava de bom humor, e por isso, na disposição de mostrar a friendliness latina, brasileira, dei um tapinha nas costas dele e menti que havia deixado a carteira lá dentro, logo não poderia pagá-lo pelo serviço. Sorri, falamos um pouco e ele, por fim, disse que lustraria meus sapatinhos detonados pela neve de graça. Um dia você me paga, enquanto agaixava-se.
 
Naquele tempo em que não estava cercado de tanto amor e amigos da vida, com os sentimentos à flor de uma pele umedecida por diversos copos de cerveja, vi meus olhos embaçarem emocionados. Meti a mão na carteira, confessei minha mentira e dei cinco dólares para o sujeito.
 
Hoje vou numa entrevista de emprego. Quando peguei meus sapatos ainda brilhando pela gentileza daquele adorável estranho, lembrei-me dele e das suas sinceridades. Onde estará meu amigo perdido? Será que ainda vaga pelas ruas do Village distribuindo seu sorriso e seu brilho por um mundo que ainda prefere gastar aqueles cinco dólares numa mísera cerveja a mais?
 
Boto meu sapato novo, rezo por ele, e vou passear.

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