sábado, 4 de abril de 2009

Prosa e Poesia

Anos passam e a mesma dúvida me cai: serei capaz, ainda nessa vida, de escrever um poeminha? Acho que não, nunca mais. Os poeminhas me surgiram como terapia, uma análise psicológica, um tratamento de início-meio-e-fim. Se no começo eram extremamente ridículas e românticas, acabaram transformadas por Baudelaire e ficaram mais secas; até que se fundiram com a prosa, indefinidamente. A métrica me parece gordura, a rima, um artifício mais apropriado à música.

Ademais, meu último amigo poeta, que sumiu sem dizer onde ia, que escrevia:

- Amor, sua cadela hipócrita!...

e outros absurdos, meu último amigo poeta, não é lá exemplo que se siga. A menos, talvez, que aquela viagem à Petrópolis, só eu e ele, comendo pesto de manjericão da horta, dormindo bêbado de vinho e sexo e curando ressacas na piscina... a menos que ela realmente aconteça. Dodecáfonos, sonetos, haikais, sei lá (mas só por um fim de semana).

De resto, é die angst da metrópole, seus blocos de prédio, seus vãos de infinitas janelas, seu texto dividido em parágrafos, suas redenções paleativas e localizadas, suas lombadas explicativas, suas pequenas novelas que desembocam em outras, seu silêncio cheio de ruído.