sexta-feira, 5 de junho de 2009

Sobre Anti Sentimentos do Século Passado

Pensei em escrever uma coisa ou duas para uma amiga. Ela anda por aí cabisbaixa...

No seu rosto, vi dia desses, um quê de "me tira daqui" e, pensei:

"Minha filha, bem vinda ao mundo real..."

O pensamento prosseguia, mas como quem dá ouvidos para o que os outros dizem, não fechei os ouvidos para suas retardices conseguintes. E elas viriam, inevitavelmente, representadas por anti-sentimentos do século passado.

Explico:

Chamo Anti-Sentimentos do Século Passado a negação da mais-valia (Karl Marx) por criaturas capitalistas. Se atualmente digo que os Estados Unidos são uma nação extremamente atrasada é por suas lamúrias serem extramamente Século Passado. Foi só sairem de uma bolha para estranharem, espernearem.

"Meus filhos [nesse caso, os Estados, todos, Virginia, Texas, Vermont...], sejam bem vindos ao mundo real!".

Notem a exclamação para eles em oposição às reticências para ela, posto que faz diferença. Minha amiga não viveu a bonança e a aproveitou com arrogância e deslumbre. Nem, tampouco, vem se desdizendo, inaugurando [sic] a diplomacia do diálogo [sic]. Minha amiga apenas se retorce e se encolhe, depois de uma confortável infância e adolecência de classe-média-pra-rica no Rio de Janeiro.

Eu, que também vi e vivi aquele conto, e que ainda hoje titubeio no terreno oblíquo do mundo real, prefiri, enfim, não lhe dar boas vindas irônicas nem cantar de galo. Apertei seu ombro com força e olhei fundo nos seus olhos até onde pude.

sábado, 4 de abril de 2009

Prosa e Poesia

Anos passam e a mesma dúvida me cai: serei capaz, ainda nessa vida, de escrever um poeminha? Acho que não, nunca mais. Os poeminhas me surgiram como terapia, uma análise psicológica, um tratamento de início-meio-e-fim. Se no começo eram extremamente ridículas e românticas, acabaram transformadas por Baudelaire e ficaram mais secas; até que se fundiram com a prosa, indefinidamente. A métrica me parece gordura, a rima, um artifício mais apropriado à música.

Ademais, meu último amigo poeta, que sumiu sem dizer onde ia, que escrevia:

- Amor, sua cadela hipócrita!...

e outros absurdos, meu último amigo poeta, não é lá exemplo que se siga. A menos, talvez, que aquela viagem à Petrópolis, só eu e ele, comendo pesto de manjericão da horta, dormindo bêbado de vinho e sexo e curando ressacas na piscina... a menos que ela realmente aconteça. Dodecáfonos, sonetos, haikais, sei lá (mas só por um fim de semana).

De resto, é die angst da metrópole, seus blocos de prédio, seus vãos de infinitas janelas, seu texto dividido em parágrafos, suas redenções paleativas e localizadas, suas lombadas explicativas, suas pequenas novelas que desembocam em outras, seu silêncio cheio de ruído.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Obama é o caralho!

Não, não tenho nada contra ele... Aliás, não tenho nada nem contra o pobre do Bush, que sai da Casa Branca à sapatadas. Tenho, na verdade, algo contra o estabelishment político de Washington, suas guinadas oportunistas e posições com aquele cheirinho de maracutaia.

Mas tampouco sobre isso é meu pequeno post.

Alguém mais aguenta ouvir falar sobre ele? Sobre a incrível trajetória do negro que ascendeu ao cargo de homem-mais-poderoso-do-mundo?

O Globo de hoje (24/01/09) tem um quadro que, aparentemente, responde à essa pergunta.

Na primeira página, a manchete principal anuncia que Obama conserta as cagadas ecumêmicas de Bush; Merval Pereira (sic) destaca o Poder Inteligente inaugurado pela administração Obama; na seção Opinião, dois dos artigos são sobre Ele; o Anselmo fala do barackberry dele...

E tem ainda a parte mais louca: a que diz que o governo [brasileiro] mantém 35 mil terceirizados. Num PS muito oportuno, a especulação é: "Se Obama governasse aqui...". Sobre essas tenho duas considerações.

Em primeiro lugar, se o governo os demitisse, a manchete seria provavelmente: "Crise atinge o funcionalismo e Governo demite 35 mil". Em segundo lugar, talvez essa especulação tivesse lugar mais apropriado na parte de opinião, já que de jornalística, ela não tem nada.

Lá nos idos dos meus 12, 13 anos, estudando História do Brasil, às vezes me perguntava se não teria sido melhor se tivéssemos sidos colonizados pela Inglaterra ou se a invasão holandesa tivesse vingado. Um pouco mais adiante, encantado com as férias na Disney, me perguntava se melhor não estaríamos como colônia dos Estados Unidos - oh!, as ruas policiadas pelo FBI, a capital, com aquela arquitetura chiquérrima de Washington e mais alguns devaneios semelhantes.

Pois veio o dia em que eu cresci e essas especulações foram caindo, num desses aggiornamentos que só a idade e alguma leitura da realidade traz.

A impressão geral é que, uma ou outra, a grande imprensa guarda minhas infantilidades ou resolveu reproduzi-las afim de atender às espectativas infantis e deslumbradas das piruas, dos Paulo Skaf e dos Diogo Mainardi de plantão. Um processo educativo (sic).

Eleger um um presidente negro num país racista com o slogan "hope over fear" em 2008 é bacana, eu concordo. Mas o que de inédito tem isso, sobretudo para nós brasileiros que elegemos, sem brados de "kill him!", um ex-retirante-nordestino-sindicalista num país classista com o slogan "deixar a esperança vencer o medo" em 2001?

No mais, o que de Negro Americano tem Obama? Filho de um membro da elite queniana e de uma white american, Obama se formou nas universidades de Columbia e na Harvard, em Ciências Políticas, Relações Internacionais e Direito.

Acho que, em matéria de mudança, prefiro a nossa, mesmo que, em nosso caso, os jornais destacassem apenas o "temor dos mercados" que, diga-se, atualmente só nos causam temor.

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Nota de Rodapé:

Depois de um discurso histórico em Berlim, uma posse histórica em Washington e um primeiro ano de governo que já é histórico antes mesmo de acontecer... Acho que História mesmo seria feita se a Administração Obama começasse fazendo valer os tratados assinados na Convenção de Genebra e as regras do Direito Internacional Público ao condenar, verbal e ativamente no CS/ONU, os ataques de Israel à Faixa de Gaza (de que, oportunamente, a grande imprensa parou de falar para cobrir esse auê todo).