Cerca de cinco anos atrás, estava eu numa cidade do interior da Escócia. Sozinho, sem dinheiro pra nem um cafézinho na rua, numa noite dessas de puro spleen e chá grátis na sala de estar do albergue em que trabalhava, eu via os outros hóspedes saindo, outros bêbados chegando - e meu coraçãozinho se perguntava: "que diabos eu vim fazer aqui?".
Os sentimentos desses últimos dias não chegam a ser iguais. Além da experiência, que me diz que tudo vai dar certo no final, estou num adorável lar do Queens, com uma família me recebendo de braços abertos e cozinha recheada absolutamente disponível. São só os sonhos de noites de pura epifania artística que estão me fugindo pela falta das tão cobiçadas verdinhas. Gastei quase tudo o que trouxe aproveitando a vida e acabei sem encontrar o tal emprego. Hoje, como na Escócia, sou um exilado no nosso Queens de todos os imigrantes.
Ontem, no E Train, olhando todos aqueles loiros e lindos saltando na última estação de Manhattan para darem lugar aos latinos, asiáticos e negros do bario - eu incluso - cheguei até a me perguntar o que diabos eu estava fazendo em NYC. No meu diário, o espaço dos segredos cabulosos que nunca caberão num blog, escrevi:
"Solidão, desemprego e um exílio diário de tudo o que sonhei antes de vir pra cá. (...) É pressa. O que será de mim sem uma cervejinha, de onde tantas possibilidades sempre podem surgir?"
Era draminha. Hoje, depois de mais um pouco dessa flanerie e tão somente, já estou de pé de novo. Amanhã começo o treinamento num café e aqueles sonhos e possibilidades parecem dar o ar da graça.
(putz, começou a tocar Elton John...)
E, enfim, pude contar com a solidariedade de... errr... não posso falar que de estranhos. Meu padrinho esteve por aqui e me levou para museus fabulosos, sem falar o Ano Novo. Meus hosts também.
O momento mais brilhante foi o dia em que visitei o Museum of Modern Art. A vontade era de engolir os olhos atentos daquela juventude interessada e fabulosa que passava pelas galerias. O museu, em si, lindo, parece carregar nos seus ângulos retos, sempre, uma energia de criação, criatividade, do novo. De ficar doidão.
A exposição, um retrospecto das artes plásticas da Europa do período 1960-2000, parecia ter parido ali, instantaneamente, aquela gente linda. Vou virar membro do MoMA...
Agora é esperar o meu primeiro salário para que possa voltar para os bares, para as portas secretas que dão em clubes escondidos, para a bagaceira... Só espero que o rádio seja um pouco mais gentil daqui por diante.
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